Promotor
Fundação Centro Cultural de Belém
Sinopse
O ciclo de conferências Notas de Música foi pensado como uma extensão do ciclo de concertos Sexta Maior, propondo-se como um espaço privilegiado para o pensamento e a partilha em torno da música. Os concertos programados oferecem ao público uma experiência direta da escuta e as conferências procuram explorar caminhos de leitura, contexto e reflexão, enriquecendo a fruição artística e alargando o horizonte interpretativo das obras apresentadas. Cada conferência é pensada como um ponto de encontro entre músicos, investigadores e público, onde se cruzam perspetivas históricas, analíticas e performativas, tendo sempre em consideração o prazer da escuta e a emoção da música ao vivo.
Programa / Cartaz
26 setembro 2025
A Música Sacra e o Poder Régio em Portugal na Segunda Metade do Séc. XVIII
Rui Vieira Nery
Na primeira conferência do Ciclo Notas de Música, o Prof. Rui Vieira Nery irá abordar
as relações entre a música sacra e o poder régio em Portugal na segunda metade do
século XVIII — um período marcado por profundas transformações culturais, políticas e religiosas.
Esta conferência realiza-se no âmbito do concerto Baixos da Patriarcal: Missa a 4 de António Puzzi, pelo Ensemble Bonne Corde, dia 26 de setembro, às 20:00. Pode adquirir bilhetes para o concerto aqui.
31 outubro 2025
Onde a Terra Acaba e a Invenção Começa
Sofia Lourenço
A temática sobre a relação entre compositor e intérprete musical envolve a tradição de como as obras são criadas e executadas. O compositor cria a obra musical, enquanto o intérprete a realiza, podendo existir uma interação entre ambos, especialmente se o compositor estiver vivo, sendo que a tradição também pode influenciar a forma como um intérprete executa uma peça, adaptando-a à sua própria sensibilidade e estilo. Um exemplo clássico é a prática de compositores-instrumentistas, tais como Mozart e Liszt, que eram capazes de compor e executar suas próprias obras, muitas vezes improvisando e adaptando as peças durante a performance.
O recital a solo do pianista e compositor Pedro Emanuel Pereira tem como objetivo a revisitação das sonoridades da tradição musical centro-europeia de influência germânica, tais como Johann Sebastian Bach e Paul Hindemith, em diálogo sonoro com autores portugueses como António Victorino d’Almeida, Mário Laginha e Carlos Paredes. Esta apresentação terá como objetivo seguir o itinerário do repertório proposto e o fio condutor de uma performance de matizes muito diversos, procurando «estabelecer uma ponte entre a música contemporânea portuguesa e a erudição clássica germânica», nas palavras do intérprete, a qual culmina com a apresentação de um seu arranjo original para piano sobre a canção Verdes Anos, de Carlos Paredes, isto é, onde a invenção também começa.
Esta conferência realiza-se no âmbito do recital de piano Aonde a Terra Acaba, de Pedro Emanuel Pereira, dia 31 de outubro, às 20h00. Pode adquirir bilhetes para o concerto aqui.
21 novembro 2025
Músicas do Mar
Paulo Ferreira de Castro
«A música muitas vezes me leva como um mar!», escreveu Charles Baudelaire, evocando as afinidades profundas entre a força arrebatadora do oceano e o poder dos sons musicalmente organizados.
Não admira, pois, que numerosos compositores, em diferentes épocas, tenham encontrado no mar uma fonte de inspiração para a criação musical, em evocações sonoras que percorrem, metaforicamente, toda a gama de ambientes oceânicos — desde a ondulação tranquila das águas até à fúria desenfreada dos elementos.
Nesta conferência, abundantemente ilustrada com exemplos audiovisuais, serão abordados autores e obras particularmente emblemáticos desse ponto de vista, com destaque para Wagner, Rimsky-Korsakov, Debussy, Britten e Takemitsu.
Esta conferência realiza-se no âmbito do recital de canto e piano Paisagens Marítimas, por André Baleiro e David Santos, dia 21 de novembro, às 20h00. Pode adquirir bilhetes para o concerto aqui.
12 dezembro 2025
Johann Sebastian Bach — Da Tradição à Herança
Eugénio Amorim
Johann Sebastian Bach (1685–1750) é uma figura central na história da música ocidental. A sua obra não apenas sintetiza séculos de tradição musical, como também projeta uma influência duradoura que atravessa estilos, épocas e fronteiras culturais.
As raízes estilísticas e culturais de Bach remontam provavelmente a uma linhagem familiar profundamente musical, cuja importância na sua formação é inegável. Desde Veit Bach, considerado o patriarca musical da família, os Bach cultivaram um legado artístico notável por gerações. Após a morte dos seus pais, quando tinha cerca de 10 anos, Johann Sebastian foi acolhido pelo seu irmão mais velho, Johann Christoph Bach, organista em Ohrdruf. Foi sob a sua orientação que o jovem Bach recebeu uma formação musical mais aprofundada, especialmente em órgão, cravo e composição, num ambiente que combinava rigor técnico e imersão espiritual.
A origem de Bach numa família de músicos, enraizada na tradição luterana da Alemanha central, moldou profundamente a sua linguagem musical. Ao longo da sua trajetória, assimilou influências diversas: da expressividade e clareza harmónica italiana, com os seus contrastes e formas claras, à rica polifonia do norte da Alemanha, passando pela elegância da música francesa. Essa síntese manifesta-se na sua obra com notável profundidade espiritual e simbolismo, evidentes sobretudo nas suas obras sacras, mas não só, onde a música transcende a técnica para se tornar veículo de fé e reflexão.
O legado de Bach estendeu-se também através dos seus filhos — Wilhelm Friedemann, Carl Philipp Emanuel, Johann Christoph Friedrich e Johann Christian — todos músicos e compositores brilhantes. As suas obras marcam a transição entre o barroco e o classicismo, refletindo a influência paterna ao mesmo tempo em que abrem novas direções estéticas. Além disso, foram fundamentais na preservação e difusão da música do seu pai, cuja receção moderna começou-se a consolidar no século XIX.
Um momento decisivo dessa redescoberta ocorreu em 1829, quando Felix Mendelssohn dirigiu uma histórica interpretação da Paixão segundo São Mateus. Este evento marcou o renascimento do interesse por Bach e a sua consagração definitiva no imaginário musical europeu.
Hoje, a música de Bach permanece viva e essencial. É fundamento na formação de músicos, objeto de incontáveis gravações e referência constante em estudos teóricos. As suas obras atravessam meios e formatos — do cinema à literatura, da interpretação historicamente informada à fusão com linguagens contemporâneas. Mais do que um compositor do passado, Bach é uma presença viva, fonte de inspiração filosófica, espiritual e artística para públicos dos mais diversos contextos.
Esta conferência realiza-se no âmbito do concerto A Dinastia Bach, pela Orquestra de Câmara Portuguesa com o maestro Julien Chauvin, dia 12 de dezembro, às 20h00. Pode adquirir bilhetes para o concerto aqui.
30 janeiro 2026
Variações sobre a Variação
Paulo Ferreira de Castro
O termo «variações» designa uma técnica de composição amplamente cultivada em diferentes contextos e estilos musicais, mas também um género musical em sentido próprio, baseado nessa mesma técnica. Na origem, a arte da variação consiste num jogo de repetição e diferença, com raízes em antigos preceitos retóricos, visando o reforço e a variedade da expressão – em linguagem comum, a arte de «dizer a mesma coisa por outras palavras». Na aceção mais especificamente musical, o princípio da variação alimentou o engenho dos compositores de todas as épocas, ao promover a invenção de formulações sempre novas de uma mesma ideia musical.
Nesta conferência, abundantemente ilustrada com materiais audiovisuais, serão abordados diferentes exemplos da arte da variação musical numa panorâmica histórica entre o século XVI e a atualidade.
Esta conferência realiza-se no âmbito do recital de piano Variações Goldberg de Bach, por Pedro Burmester, dia 30 de janeiro, às 20h00. Bilhetes para o concerto disponíveis em breve.
27 fevereiro 2026
O Rei D. Dinis e a Música
Manuel Pedro Ferreira
O rei D. Dinis não só fundou a Universidade em Lisboa como aí instituiu, em 1323, a cadeira de Música, de cujo carácter académico se dará conta. A relevância do rei para a atividade musical tem que ver, não obstante, sobretudo com o seu papel na tradição lírica trovadoresca em galego-português, enquanto mecenas e criador. Entre as suas muitas cantigas, sete chegaram-nos com notação musical no chamado Pergaminho Sharrer, descoberto em 1990 na Torre do Tombo. Este documento revela-nos uma faceta da sua arte que os textos poéticos, conhecidos desde o século XIX, não deixavam adivinhar.
Esta conferência realiza-se no âmbito do concerto As Canções de D. Dinis, pelo grupo Na Rota do Peregrino, dia 27 de fevereiro, às 20h00. Bilhetes para o concerto disponíveis em breve.
6 março 2026
Metamorfoses do Concerto Barroco
Cristina Fernandes
Durante o período Barroco, desenvolveram-se novos géneros musicais, entre os quais o «concerto» assume um papel preponderante. Assente no princípio do contraste ou da oposição entre grupos sonoros (soli/tutti ou concertino e ripieno), mas também do diálogo e da teatralidade que emerge dessa interação, pode considerar-se como uma espécie de ideal do Barroco musical. Entre finais do século XVII e meados do século XVIII, surgiram três categorias principais de concerto instrumental (concerto grosso, concerto a solo e concerto di gruppo), mas suficientemente flexíveis para permitir múltiplas variantes. O protagonismo dos solistas contribuiu também para o crescente desenvolvimento do virtuosismo instrumental. Desde Roma e do Norte de Itália, com destaque para figuras como Corelli e Vivaldi, as distintas tipologias de concerto expandiram-se rapidamente a territórios como a Alemanha, a França ou a Inglaterra, através da circulação de músicos e partituras manuscritas e impressas. Compositores e instrumentistas assimilaram, recriaram e adaptaram essas práticas, combinando-as com as suas próprias culturas e experimentaram novos recursos, como sucedeu com J. S. Bach, G. F. Telemann ou Christoph Schaffrath. A conferência propõe uma panorâmica das principais metamorfoses do concerto como género musical durante a primeira metade de setecentos, relacionando-as com os seus protagonistas (compositores, intérpretes, patronos, mecenas, editores) e com possíveis espaços performativos (cortes, igrejas, teatros, academias, cafés), dando especial destaque aos contextos de criação e às particularidades musicais das obras que integram o programa.
Esta conferência realiza-se no âmbito do concerto do Ensemble Diderot, Concertos para Violino de Bach, dia 6 de março, às 20h00. Bilhetes para o concerto disponíveis em breve.
10 abril 2026
A Sinfonia em Finais do Século XVIII: Aspetos Históricos e Estilísticos
Luís M. Santos
A sinfonia foi um dos géneros musicais que mais se destacou na cultura europeia setecentista. Estima-se, de facto, que só nesse período tenham sido compostas perto de 20 mil obras, numa grande variedade de formatos. Após passar em revista as origens e o desenvolvimento inicial do género, esta conferência explora a história da sua transformação estilística nas últimas décadas do século XVIII, considerando os contributos de múltiplos protagonistas em diferentes pontos geográficos, nomeadamente a produção final de J. Haydn e W. A. Mozart, mas também de figuras como J. C. Bach, C. P. E. Bach, C. Cannabich, F.-J. Gossec, C. D. von Dittersdorf e alguns outros. Muito para além do objeto sonoro, a sinfonia é igualmente entendida como um testemunho eloquente das mudanças socioculturais que marcaram essa era.
Esta conferência realiza-se no âmbito do concerto dos London Mozart Players, dia 10 de abril, às 20h00. Bilhetes para o concerto disponíveis em breve.
22 maio 2026
O Belo em Som: Viagem Através dos Séculos
Manuel Pedro Ferreira
A partir da Batalha de Amor no Sonho de Polifilo, Paul van Nevel concebeu um programa em que a beleza é o fio condutor entre obras dos séculos XIV e XVI e alguma música mais recente. Nesta conferência, serão exploradas as transformações do conceito de beleza musical no Renascimento e as suas ramificações na época contemporânea.
Esta conferência realiza-se no âmbito do concerto Sobre a beleza: da música renascentista à música dos nossos dias, pelo Huelgas Ensemble, dia 22 de maio, às 20h00. Bilhetes para o concerto disponíveis em breve.
26 junho 2026
Os Músicos do Tejo
Preços